Beirando a capital, um conjunto de sete cidades formam a macrorregião do ABC, importante pólo econômico do país, onde vivem aproximadamente 2,7 milhões de pessoas (IBGE/2015). Os municípios do ABC estão interligados de tal maneira que é difícil definir suas divisas terrestres. Suas populações compartilham realidades semelhantes quanto ao mercado de trabalho, à mobilidade urbana e aos problemas sociais.
Historicamente, o ABC é lembrado como berço da indústria automobilística e das multinacionais no estado de São Paulo, que se instalaram na região principalmente a partir da década de 1950. Sua população foi por muito tempo formada majoritariamente por operários/as dessas indústrias, protagonistas de episódios históricos na luta trabalhista. Com a modernização dessas indústrias, o desenvolvimento e especialização de trabalhadores/as, a região do ABC passou a ser reconhecida como um dos pólos tecnológicos nacionais.
Esses estigmas trazem uma visão pragmática da região que contrasta com a efervescência cultural das últimas décadas. O ABC, mais do que berço industrial, é berço do/a trabalhador/a. Trabalhador/a que é responsável pelo terceiro maior PIB industrial do país, que fez história na luta por seus direitos, que produz, que inventa e que nunca para de compor o emaranhado plural de histórias do ABC. Terra de imigrantes, migrantes, operários/as, militantes, estudantes, artistas. ABC terra de cultura.
Centro Cultural Livraria e Editora Alpharrabio
No início dos anos de 1990, Santo André assistiu ao desmonte de políticas públicas voltadas para a cultura. Dois de seus espaços culturais mais queridos, a Casa da Palavra, na Praça do Carmo, e a Casa do Olhar, na Avenida Campos Sales, foram transformados em departamentos de serviços da prefeitura.
Felizmente, a cultura é um organismo vivo e sobrevive mesmo sem os esforços públicos. Em 1992, foi fundada a Livraria e Editora Alpharrabio que se definiu como “muito mais que uma livraria, um ponto de encontro cultural, um centro irradiador e procriador de idéias” em seu convite de inauguração. Dalila Teles Veras, escritora, agente cultural e fundadora do espaço, conta que o Alpharrabio surgiu da necessidade de espaço físico para os encontros e trocas culturais, transformando-se num Centro Cultural.
Em seu primeiro ano, o Alpharrabio recebeu encontros de escritores, lançamento de livros, performances, oficinas e debates que movimentavam o cenário cultural da época. O primeiro livro foi publicado pela editora em 1993, “ABC Cotidiano: Cotidiário” de Antônio Possidônio Sampaio, advogado trabalhista morador de Santo André, a obra contava a relação cotidiano e trabalho com a agitação política do impeachment de Fernando Collor como pano de fundo.
O Centro Cultural Alpharrabio fez reunir a militância e contribuiu com a efervescência que permeava as cidades do ABC há décadas. Dalila, poeta e ativista cultural, desde 1982 integrava o grupo Livrespaço, um coletivo de escritores e poetas, cujo objetivo era promover trocas literárias e culturais, realizar a divulgação de seus trabalhos e fazer a formação de novos leitores de poesia nos espaços educacionais e culturais e nos movimentos sociais. O grupo se reunia em espaços informais pela cidade e também levava projetos de leitura e literatura para toda a rede de ensino da cidade de Santo André. Hoje, o acervo do ABCs Núcleo de Referência e Memória do Centro Cultural Livraria e Editora Alpharrabio, em processo de digitalização na UFABC, guarda os vestígios dessa atividade: atas, relatórios, trocas de cartas, poesias e diversas outras atividades registradas nas publicações da Revista Livrespaço que, em 1993, ganhou um prêmio da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes) por sua trajetória.
Outro acervo importante refere-se à atividade do Fórum Permanente de Debates Culturais do Grande ABC, que nasceu nas dependências do Centro Cultural Alpharrabio. Desde 2007, participantes das sete cidades reuniram-se, entre eles, professores/as, artistas, ex- secretários/as de cultura, agentes culturais, estudantes e interessados/as em cultura de diferentes áreas. Foi criado com “o objetivo de estabelecer um processo participativo e crítico das políticas públicas da cultura e da ação cultural integrada na região do ABC”, como definido no blog “o lugar escrito”, endereço online que abriga resenhas, atas das reuniões, artigos e ensaios não só de integrantes do fórum, mas também de convidados/as.
Durante dez anos o grupo não deixou de se reunir, independente da quantidade de pessoas que se fizeram presentes no debate cultural da região. Em 2008, foi procurado pelo Consórcio Intermunicipal do ABC, que promove o planejamento e articulação de políticas para a região, para que integrasse o Grupo de Trabalho de Cultura. Pela primeira vez coordenado por um membro da sociedade civil, incluindo Dalila, o grupo teve atuação fundamental na reunião das sete secretarias de cultura para discutir as questões macro da região. Apesar da atuação marcante, procedimentos jurídicos excluíram a sociedade civil do GT de Cultura e o Fórum não pôde dar continuidade a seus planos no Consórcio.
A militância pela produção cultural e preservação dela, no entanto, nunca terminou.
Vale lembrar que o contexto de efervescência política e cultural na abertura democrática abrigou o GIPEM – Grupo Independente de Pesquisadores de Memória do ABC (1998), que reuniu mais de uma centena de pesquisadores/as acadêmicos/as e memorialistas espontâneos/as. Entre eles, Dalila Teles Veras, coordenadora do Centro Cultural Alpharrabio e do Fórum Permanente de Debates Culturais do Grande ABC, participou dos debates culturais e pautou a agenda de políticas culturais junto à Prefeitura, relacionadas à preservação de memória. Trabalho comprometido que chega até nós graças à incorporação de muitas de suas produções ao acervo do ABCs – Núcleo de Referência e Memória, do Centro Cultural Livraria e Editora Alpharrabio.
O referido acervo, segundo Dalila Teles Veras, surgiu como Núcleo devido ao grande volume de material sobre a região do ABC que guardava em casa por interesse pessoal e profissional, como escritora, poeta, agente cultural e colunista do jornal do Diário do Grande ABC. Eram mais de quinhentos exemplares de livros sobre o ABC, publicações de autores/as locais, jornais, revistas, teses e dissertações. O Núcleo nasceu do desejo de socializar este material extenso e também surgiu da carência de material sobre a região do ABC catalogado nas bibliotecas da região. Cresceu com a urgência de se estabelecer um acervo de memória e história cultural regional.
Dalila passa então a recolher este material e catalogar à sua maneira. Com o tempo, o Centro Cultural Alpharrabio passou a receber doações que enriqueceram ainda mais o acervo. O Núcleo reuniu memorialistas de diferentes contextos, promoveu ações neste sentido. Por exemplo, em 2002, com a eleição de uma figura de importância histórica para a região, Luís Inácio Lula da Silva, o Núcleo organizou a exposição “Caminhada Operária” com os recortes do acervo sobre as grandes greves do final dos anos de 1970 e início dos anos de 1980, considerada a primavera trabalhista do Brasil.
Nos seus 28 anos de existência, o Centro Cultural Alpharrabio entregou à cidade de Santo André e às suas cidades irmãs um trabalho coletivo de ativismo cultural, integrando debate político, oferecendo abrigo para a produção cultural, espaço para ocupação da comunidade, escrevendo e, sobretudo, preservando a história cultural do ABC.
Bibliografia Geral e Outras Referências
KAMENSKY, Andrea Paula dos Santos Oliveira. Arquivo Histórico-Cultural do ABC: ação cultural no contexto da pandemia de COVID-19. Plataforma Digital Plural UFABC, 2020. Disponível em: http://cursos.ufabc.edu.br/digitalplural/arquivo-historico-cultural-do-abc-acao-cultural-no-contexto-da-pandemia-de-covid-19/.
KLEEB, Suzana Cecilia (UFABC-SP). Construção da Memória em Santo André: diálogos possíveis – . Contemporâneos: Revista de Artes e Humanidades, n. 13, nov-dezembro/2016. Disponível em: https://revistacontemporaneos.com.br/n13/artigos/construcaodamemoria.pdf .
VERAS, Dalila Teles; VERAS, Luzia Maninha Teles. Alpharrabio 12 anos: uma história em curso. Santo André, SP: Alpharrabio, 2004.
VERAS, Dalila Teles (org.). Seduzir para a poesia – trajetória do Grupo Livrespaço 1983-1994. Santo André, SP: Alpharrabio Edições, 2008.
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